CIDADES

No Agreste, moradores seguiam de perto os japonesesPublicado em 22.05.2008, às 09h43
Desde o início da imigração japonesa, no fim da década de 50, os habitantes de Bonito receberam bem os nipônicos. No centro da cidade, os japoneses eram literalmente seguidos de perto pelos nativos, que, curiosos, tentavam desvendar os novos moradores, avaliando desde suas feições até seus comportamentos. O avicultor Yasukazu Kaneko, 60, era uma das crianças que habitaram Bonito antes da chegada da primeira leva de imigrantes e conta que o que causava mais estranheza eram os costumes, que começavam a habitar o imaginário da população bonitense. "Tínhamos o costume de tomar banho quente e, como não havia eletricidade, colocávamos tonéis sobre quatro pedras e púnhamos fogo em baixo para esquentar água. Tomávamos banho lá mesmo, enquanto esquentava. Resultado: ‘Olha lá, estão cozinhando o japonês’", conta.O resultado de anos de integração se reflete na relação com a sociedade local, que atribui aos agricultores da região bons adjetivos, tanto na área pessoal quanto profissional. "Os japoneses são bem quistos. E os produtos deles são os melhores! Tomate-cereja e pepino só compro deles", afirma o comerciante Givaldo Menezes .O principal problema enfrentado hoje pela comunidade de Bonito não é a distância do Recife, mas, sim, o envelhecimento dos japoneses e seus descendentes. Assim que chegam à maioridade, os jovens vão para capital em busca de melhores condições de educação, deixando para trás o convívio com o meio rural. “Meus filhos foram estudar na capital e nenhum deles quer continuar com o negócio da família. Um deles quer abrir um restaurante na cidade (Recife) e não quer nem saber de voltar para cá”, conta o horticultor Hideo Haruta, 67 anos.Assim como ele, diversos agricultores sofrem com a perspectiva de não ter para quem deixar as terras. Além disso, como vários jovens não voltam à região, a sociedade nipo-descendente da região sofre o grave risco de, aos poucos, desaparecer. (E.W.)