quinta-feira, 22 de maio de 2008

CIDADES

Petrolina, a Califórnia brasileiraPublicado em 22.05.2008, às 09h44
RecifeMaior concentração de nipônicos. Comerciantes e empresários. Grande população de jovens e crianças.
BonitoApenas 15 famílias. Agricultores e criadores de animais. Faixa etária acima dos 60 anos.
PetrolinaCerca de 70 famílias. Agricultura em terrenos irrigados. Em geral, adultos entre 30 e 50 anos.
Os estudos sobre a colônia nipônica em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, ainda não foram concluídos pelo Consulado-Geral do Japão no Recife nem pela Associação Cultural Japonesa de Petrolina, mas já se sabe que o número de famílias vivendo no local excede 70, totalizando quase 600 habitantes. A grande maioria descendentes de japoneses, da segunda e terceira gerações. A característica urbana da cidade localizada a 714 km do Recife é refletida nos habitantes nipônicos, que mantêm certa distância do tradicionalismo, ostentando modernidade. A comunidade é heterogênea, contando com jovens, adultos e idosos adeptos, em geral, da religião católica.Impulsionada pela fruticultura irrigarada do Vale do São Francisco, Petrolina atraiu os primeiros imigrantes principalmente pelo investimento da Cooperativa Agrícola de Cotia, grande empresa de São Paulo do ramo agroindustrial responsável pela vinda de diversos nipo-descendentes do País. Antigamente vendida como a ‘Califórnia do Brasil’, a cidade se tornou um destino promissor para os que enfrentavam dificuldades de emprego nas grandes metrópoles. Membros da comunidade japonesa afirmam que a prática agrícola não era muito avançada antes da chegada da Cooperativa, que já atuava em Pernambuco desde a década de 50. Pouco tempo depois, o cultivo de uva, manga e outras frutas tropicais viraram ‘febre’, resultando na atual configuração produtiva da região.Se a influência dos nipônicos alterou o modo de produção da região, Petrolina também influenciou o modo de vida dos imigrantes e descendentes. Segundo o presidente da Associação Cultural Japonesa de Petrolina, Mauro Ishibashi, que reside na cidade há 16 anos, a principal contribuição do ambiente é no âmbito pessoal. "Hoje sou uma pessoa muito mais sossegada. Peguei um pouco desse jeito característico do nordestino de ser mais tranqüilo", avalia. Por outro lado, traços próprios da educação japonesa são valorizados na criação dos filhos dos descendentes. "Não abro mão de que minhas filhas aprendam valores de decência e honestidade acima de tudo. Não aprecio quando o povo daqui tenta se utilizar de certas ‘espertezas’", diz Ishibashi.UNDOKAI E BONENKAI - Não existe muita integração entre os nipo-descendentes da região. Reservadas, as famílias costumam trocar experiências apenas em eventos sociais, em geral promovidos pela Associação Japonesa das cidades de Petrolina e Juazeiro, estruturada em 1982. Para evitar o distanciamento cada vez maior dos jovens para a cultura tradicional, é feito um investimento em dois grandes eventos na cidade: o Undokai e o Bonenkai, visando à perpetuação de poucas, mas significativas, atividades conjuntas do grupo. Realizado todo mês julho, o Undokai é uma grande gincana esportiva que dura o dia inteiro, incluindo esportes e jogos tradicionalmente japoneses. O Bonenkai, ou festa de despedida do ano, acontece em dezembro, próximo às comemorações do Natal e do Ano Novo, e consiste na preparação conjunta de refeições à base de bolinhos de arroz preparados artesanalmente.A comunidade de Petrolina não sofre diretamente com o envelhecimento de sua população, mas com o de sua cultura. A maior parte dos indivíduos não fala fluentemente o japonês. O budismo e a capela Tenrinkyo da cidade não possuem muitos adeptos. Esse distanciamento em relação às tradições e a hibridização pode provocar que boa parte das crenças e atividades dos antepassados caia no esquecimento com o passar dos anos. (E.W.)

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