
Desde que se apresentaram em cadeia nacional de televisão, através do programa Domingão do Faustão, os integrantes da Orquestra Criança Cidadã Meninos do Coque passaram a sentir de forma mais perceptível o peso da responsabilidade que carregam em seus violinos, violas e violoncelos. “Daqui pra frente vão exigir muito mais de nós na hora de tocar. Não seremos mais os meninos bonitinhos do Coque, e sim uma orquestra decente”, disse Bianca de Cássio, 12 anos, uma das integrantes do grupo, referindo-se ao que viu e sentiu após a aparição na TV.
É, portanto, com essa responsabilidade que aqueles meninos e meninas, sob a regência do maestro Cussy de Almeida – também fundador do Movimento Armorial – se apresentarão no Fórum do Recife, quase no terreiro de suas casas, nesta quarta-feira (5), para servidores, magistrados, advogados e jurisdicionados. A Orquestra - fruto de um trabalho social nascido entre as densas paredes do Palácio da Justiça, pela iniciativa do desembargador Nildo Nery e do juiz João Targino - abrirá, às 12h30, a programação cultural preparada pela Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP).
A apresentação dos meninos será no Roll Monumental do Fórum Rodolfo Aureliano. No mesmo espaço acontecerá uma “Peleja do Frevo com o Forró”, com as participações da Orquestra Popular do Recife, de Maciel Salu e Banda, e do Balé Popular do Recife. Na seqüência, às 14h, será apresentada a comédia teatral “A Carta de Morfeu” e, por fim, a palestra de Ariano Suassuna.
O evento, coordenado pela equipe da Gerência de Bem-Estar da SGP, marca o Dia Nacional da Cultura e, ainda que tardiamente, se propõe registrar a passagem do Dia do Servidor - 28 de outubro.
Segundo ano
A Orquestra Criança Cidadã Meninos do Coque comemorou, em agosto, o seu segundo aniversário. Três recitais em homenagem ao compositor Vivaldi marcaram as comemorações. Dois deles foram realizados nas Igrejas Madre de Deus, no bairro do Recife, e da Sé, em Olinda. O outro no Teatro de Santa Isabel.
Uma história de persistência e superação, que bem caberia num livro, é como poderia se definir a trajetória percorrida, nesses dois anos, pelos cerca de 100 crianças e adolescentes que integram a Orquestra Criança Cidadã. Fazendo caminho diverso do que em regra fazem os músicos consagrados, eles não vieram de conservatório. Mal sabiam ler e escrever. Desconheciam regras básicas de higiene e comportamento social.
As dificuldades a serem superadas foram e ainda são muitas. Por isso mesmo já são vistos como vitoriosos pelas pessoas que já tiveram oportunidade de os assistir. Frutos de uma comunidade marcada pelo estigma da violência e cercada pelo preconceito, os garotos são alunos da escola da vida. De uma vida, diga-se, que não lhes apontam muitas oportunidades.
Talvez aí resida a explicação para o tamanho da garra com que se agarram à oportunidade única propiciada pelo projeto desenvolvido pela Associação Beneficente Criança Cidadã (ABCC). Projeto que, aliás, sempre contou com o apoio do Tribunal de Justiça de Pernambuco.
Os Meninos do Coque que, em Brasília, fizeram o presidente Lula chorar e, na TV, emocionaram o país, hoje são um exemplo nacional. Estão aí para dizer que talento não é exclusividade dessa ou daquela classe social.
Vale a pena uma fugidinha do trabalho para dar uma espiada nessa turma, neste Dia Nacional da Cultura, 5 de novembro.